A Bacharelanda Ingrid Zambilo, juntamente com seu orientador Nicolas
Floriani, apresentou seu trabalho de Pesquisa no XXIX Encontro Anual de Iniciação
Científica e VI Encontro Anual de Iniciação Científica Júnior, como resultado de sua
participação no Projeto Interconexões.
Este trabalho apresentou as atividades desempenhadas no projeto de iniciação
científica entre agosto de 2019 a outubro de 2020. Em geral, a pesquisa teve por objetivo
compreender as dimensões materiais e imateriais dos conhecimentos e saberes
agroecológicos da comunidade remanescente quilombola Palmital dos Pretos. Mais
precisamente, buscou-se caracterizar a diversidade biótica e abiótica, o modo de
produção e o manejo dos recursos naturais através do estudo dos aspectos
socioculturais integrada com uma análise agronômica.
A área de estudo situa-se na região da Serra das Almas, entre os municípios
paranaenses de Ponta Grossa e Campo Largo. A comunidade de Sete Saltos está
inserida no distrito de Itaiacoca, Ponta Grossa. Esta região tem seu histórico de
ocupação a partir do tropeirismo no século XIX. Na região Sul, o Paraná é o estado que
apresenta o histórico mais antigo de experiências com sistemas agroflorestais,
envolvendo principalmente a modalidade de integração Floresta-Pecuária (RIBASKI e
MONTOYA VILCAHUAMAN, 2001), estas práticas produtivas estão associadas
historicamente à formação socioespacial da região das comunidades rurais tradicionais
faxinalenses. Atualmente, a agricultura de Itaiacoca é caracterizada pelo predomínio de
latifúndios que empregam técnicas modernas de manejo, tais como a silvicultura do
pinnus (Pinaceae). Entretanto, as comunidades tradicionais permanecem com os métodos
originais de produção, ou seja, ainda empregam técnicas como a agricultura de
subsistência e a preservação de sementes desprezadas pelo agronegócio.
A metodologia de pesquisa fundamentou-se em uma descrição densa das
praticas socioecológicas de manejo do agroecossistema. Para tanto, o método da
observação participante conferiu maior aproximação à realidade traduzida por
instrumentos etnográficos associado aos geoagronômicos: aplicação de questionários,
imagens satelitares (google earth), entrevistas abertas, oficinas participativas em
agroecologia, percursos guiados pela comunidade e em parcelas agroflorestais.
As atividades de campo realizadas tiveram por objetivo promover a integração
do pesquisador no cotidiano das comunidades. Elaborou-se roteiros de campo, em
gabinete, utilizando-se de recursos como mapas de recursos naturais da região,
caracterização do uso do solo, cartas topográficas disponibilizadas pelo ITCG e
calendário agrícola. Cada atividade de campo promoveu o plantio de sementes crioulas
juntamente com a comunidade, unindo os conhecimentos científicos com os saberes
tradicionais.
Imagem 1 - Plantio de feijões crioulos. Fonte: Zambilo, 2019.
Os resultados obtidos se referem à caracterização dos aspectos socioespaciais e
produtivos da comunidade pesquisada. Obteve-se um diagnóstico do cenário agrícola da
região contendo a rotação das culturas ao longo do ano e a distribuição espacial (uso da
terra).
Em uma reunião realizada pelo Grupo de Pesquisa Interconexões UEPG-CNPq
no dia 20 de março de 2019 foram definidos os critérios agroflorestais para
o plantio das mudas nativas, com a colaboração da engenheira agrônoma e chefe do
Departamento Socioambiental do Instituto Ambiental do Paraná-IAP , Margit Hauer,
obtivemos informações sobre como deveríamos fazer o plantio de maneira com que as
mudas se complementassem para um melhor desenvolvimento do Sistema agroflorestal.
O primeiro plantio das mudas iniciado originalmente por outros pesquisadores
do grupo Interconexões, sob coordenação do Doutor e coordenador Nicolas Floriani,
realizado em 22 e 23 de março de 2019, foi acompanhado neste projeto de Iniciação
Cientifica. Nele as espécies nativas plantadas foram conforme tabela 1:
Tabela 1 - Espécies nativas para plantio Desenvolvido: Zambilo, 2019.
Tais plantas compõem os sistemas agroflorestais nas propriedades de Arildo
Portela e Adal (imagem 2 e 3), que se localizam na região da Serra das Almas –PR,
ambas em área dentro da comunidade tradicional do Quilombo Palmital dos Pretos.As
mudas de árvores que compõem os sistemas agroflorestais das duas propriedades foram
cedida pelo Instituto ambiental do Paraná (IAP).
Imagem 2 - Plantio propriedade Arildo Fonte: Floriani, 2019.
Imagem 3 - Plantio propriedade Adal Fonte: Floriani, 2019.
Para a realização dos plantios conforme instruções da Doutora Margit Hauer,
foram realizados croquis (figuras 1 e 2) que demonstram como as plantas foram
dispostas nas propriedades, e ainda quais plantas foram utilizadas nas propriedades
levando em considerações fatores relevantes como: árvores nativas já presentes no local,
distanciamento entre árvore e entre linhas e ainda declividade do terreno.
Figura 2 - Croqui propriedade Adal
Figura 1 - Croqui propriedade Arildo. Desenvolvido: Zambilo, 2019.
Todas as árvores plantadas nos dias de campo nos dias 22 e 23 de Março de
2019 foram identificadas (imagem 4) para uma análise sobre seu crescimento e
desenvolvimento no decorrer do tempo. Em 13 e 14 de
Setembro do mesmo ano foi realizado atividades de campo
nas propriedades onde se pode ter base do desenvolvimento
das plantas, as quais não apresentavam doenças e com um
crescimento normal (imagem 5 e 6).
Imagem 4 - Plantio em SAFs e identificação de plantas.
Fonte: Zambilo, 2019
Imagens 5 e 6 - Crescimento de árvore em SAF.
Fonte: Zambilo, 2019.
Posterior ao plantio das árvores para criação de SAFs deu-se continuidade a um
plantio de espécies de sementes crioulas em consorcio em 13 e 14 de setembro de 2019,
em parceria com o Projeto de Doutorado da acadêmica Cleusi T. Bobato Stadler,
orientanda do Prof. Nicolas Floriani, na propriedade do quilombola Arildo Portela, na
região da Serra das Almas –PR, na comunidade tradicional do Quilombo Palmital dos
Pretos. Contam em espécies crioulas aqui plantadas foram: Feijão mulato, Feijão preto
de 60, Feijão manteiguinha preto, Feijão vermelho, Feijão sojinha, Feijão amarelo,
Feijão pé vermelho do norte, Feijão dama, Feijão rosinha, Feijão venha logo, Feijão
bico de ouro, Feijão cavalo vermelho, Feijão cavalo branco, Feijão cavalo
preto./vermelho, Feijão mourinho roxo, Feijão olho de pombo vermelho, Feijão
mourinho vermelho/preto, Feijão chocolate, Feijão milico, Milho tunikata vermelho,
Milho tunikata amarelo. A área de plantio foi 3,9 metros x 1,6 metros, com
espaçamento entre as plantas de 40 centímetros para feijão e 20 centímetros para milho.
Houve o acompanhamento do crescimento dos feijões de todas as espécies plantadas.
Em 23 de Setembro de 2019, novamente em parceria com a Doutoranda Cleusi
T. B. Stadler, foram feitos novos plantios de sementes, desta vez para experiência de
desenvolvimento e adaptação em climas diferentes aos quais as sementes crioulas se
reproduzem, dentre as mesmas há sementes que são do Peru,para tanto as amostras
foram colocadas em bandejas até que se obtenha tamanho para serem transferidas ao
solo. Estas amostras foram colocadas em estufa na residência de Antônio Ostrufka, que
se localizam na região da Serra das Almas –PR, na região de Sete Saltos de Cima.
Tabela 2 - Plantio de sementes na comunidade Sete Saltos de Cima e Palmital dos Pretos
Propriedades: Sr. Antonio Ostrufka e Arildo Portela.
Desenvolvido: Cleusi T. B. Stadler, 2019, colaboração Ingrid Zambilo.
No dia 30 de Novembro de 2019, o CETA (Centro de Educação e Treinamento
em Agroecologia) e ASAECO (Associação Solidária da Agricultura Ecológica de Ponta
Grossa e Região, em parceria com o Grupo INTERCONEXÕES da UEPG,
promoveram aos alunos do Curso de Bacharelado em Geografia, o encontro “Vivências
em Agroecologia”. Tendo por objetivo a troca de experiencias e conhecimento da
natureza, alem disso contou com atividades iniciando com o Histórico do CETA pelo
Sr. Antônio Ostrufka, caminhada na agrofloresta, fertilidade e manejo da matéria
orgânica do solo-ciclagem de nutrientes, interação solo-planta, bioindicadores e adubos
verdes, compostagem, por fim foi realizado o mutirão de plantio, com diversas espécies
plantadas sem o uso de adubo, todos os feijões foram identificados.
Tabela 3 - Espécies de feijões plantados.
Desenvolvido: Cleusi T. B. Stadler, 2019, colaboração Ingrid Zambilo.
Imagem 7 - Plantio Feijões propriedade Antônio Ostrufka.
Fonte: Zambilo, 2019
Como resultado das experiências de plantios de feijões na região, foram obtidos
dois diagnósticos, o primeiro diz respeito ao plantio realizado em 13 e 14 Setembro de
2019, neste todos as variedades plantadas obtiveram crescimento normal e conseguindo
ainda a reprodução de diversas sementes crioulas, as quais ficaram em posse do Arildo
Portela e sua familia para que pudessem ainda estar fazendo um novo plantio. O
segundo diz respeito ao plantio de 30 de Novembro de 2019, ao qual não se obteve o
mesmo progresso, e ao passar de 12 dias do plantio das sementes crioulas na
propriedade do Sr. Antônio Ostrufka, obtivemos a informação de que os pássaros
haviam comido as plantas, necessitando um replantio das espécies.
Em virtude dos dados apresentados temos uma ótima aceitação da comunidade
rural tradicional quilombola Palmital dos Pretos no que se diz respeito à adesão de um
novo modelo tecnológico de agricultura, há ainda um excelente crescimento e
desenvolvimento das árvores plantadas na região uma vez que o acompanhamento tem
sido feito de maneira remota por conta da pandemia mundial do COVID-19. Até o
presente momento os moradores que estão acompanhando o desenvolvimentos das
mesmas se dizem confiante quanto ao seu desenvolvimento.
Levando em consideração os aspectos físicos da região, os SAFs tem muito a
contribuir para a floresta nativa que conta em sua maioria com floresta de Araucárias
em diversos estágios sucessionais, podendo fazer o plantio em consórcio ou ainda para
fins de criação de animais nas entrelinhas com as árvores plantadas nesse sistema. Em
geral, essa adoção ao novo modelo tem proporcionado aos moradores da região uma
nova forma de desenvolvimento, que não é apenas de preservação a natureza, mas
também de ganho econômico, visto que todas as árvores têm sua utilidade e
funcionalidade dentro do sistema de agrofloresta.